quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O ESPÍRITO REVANCHISTA E O PERECIMENTO DE NOSSA PROTEÇÃO

                O ESPÍRITO REVANCHISTA E O PERECIMENTO DE NOSSA PROTEÇÃO



         

Muito se vem a falar de revanchismo ultimamente, sobre o regime petista e as Forças Armadas, da presidente-guerrilheira infringindo a Lei da Anistia fazendo frente à Comissão Nacional da Verdade, sua inércia perante a sucateação das nossas gloriosas Forças Armadas e o não reconhecimento da autoridade do então ministro da Defesa Celso Amorim.
Porém nunca se perguntaram (ou não tinham o conhecimento) de como o Brasil que outrora possuirá a segunda maior Marinha de Guerra do mundo, ficando atrás apenas da Inglaterra, chegou a essa condição tão deprimente e lamentável.
A Armada Imperial Brasileira surgiu junto com a nossa Independência e ao longo dos reinados pedristas ela se desenvolveu:

“Com a Independência, a Marinha tornou-se ainda mais importante, pois apesar de termos tido a sorte de possuir um Pedro I como monarca, o Brasil se teria esfacelado numa série de republicas - como aconteceu na América espanhola - se não fosse a sua ação integradora. É certo que existem outros fatores, mas foi ela que bloqueou, venceu e perseguiu a Esquadra portuguesa, possibilitando a união com o Rio de Janeiro”.

Em 1840, quando o Imperador Dom Pedro II foi declarado maior de idade e assumiu suas prerrogativas constitucionais, a Armada detinha noventa navios de guerra: seis fragatas, sete corvetas, dois brigues-barcas, seis brigues, oito brigues-escunas, dezesseis canhoneiras, doze escunas, sete patachos, seis barcas a vapor, oito lanchões artilhados, três charruas, dois lugres, dois cúteres e cinco lanchões armados. Nova modernização ocorreu, desta vez, reorganizando a Secretaria de Estado, a Contadoria da Marinha, o Quartel-General e a Academia de Marinha. Novos navios foram comprados e as capitanias dos portos foram reaparelhadas. O Corpo dos Imperiais Marinheiros foi definitivamente regularizado e surgiu o Corpo de Fuzileiros Navais (no lugar do Corpo de Artilharia de Marinha que fora dissolvido), assim como serviços de assistência aos inválidos e também escolas para formação de marinheiros e artífices.
Príncipe Adalberto da Prússia, em viagem ao Brasil em 1842 escreveu:

      "Que felicidade para esse belo país, a de ser governado por um soberano como esse, que tão bem compreende os deveres da realeza e nutre tão ardente desejo de fazer feliz o seu povo".

O príncipe foi encarregado de estudar as mais poderosas marinhas do mundo nesta época pois seu soberano o havia indicado para criar a Imperial Marinha Alemã. Na sua vida realizou várias viagens a países como Holanda, Inglaterra, Rússia, Império Otomano e claro, o Império do Brasil.



 Da década de 1860, a Armada Nacional foi mais uma vez modernizada, e seus antigos navios à vela deram lugar quarenta navios a vapor com mais de 250 canhões. Seus oficiais não continham mais estrangeiros, e sim, somente brasileiros natos (que eram recrutas na época da guerra da Independência). De seu quadro de militares, saíram homens como Joaquim Marques Lisboa, marquês de Tamandaré, Francisco Manuel Barroso da Silva, barão do Amazonas, Joaquim José Inácio de Barros, visconde de Inhaúma, Luís Filipe de Saldanha da Gama, dentre outros, que foram todos leais ao regime monárquico.  Em 1864 foram acrescidos a força naval onze navios encouraçados e seis monitores encouraçados:
1.     Brasil, encomendado da França
2.     Três construidos no Arsenal da Corte: BarrosoTamandaréRio de Janeiro.
3.     Cinco comprados praticamente prontos por serem anteriormente encomendados pelo ParaguaiLima BarrosMaris e BarrosHerval,Bahia e Silvado.
4.     Dois encomendados na Inglaterra, Colombo e Cabral.
5.     Seis monitores fluviais, classe Pará, construidos a partir de 1866 no arsenal da Corte.
Além disso, seus comandantes, assim como suas tripulações (e as das embarcações que já se encontravam no teatro de guerra) foram melhor treinadas. Estas ações permitiram a Armada obter uma grande vitória na Batalha de Riachuelo contra as forças paraguaias. Construtores navais brasileiros como Napoleão Level, Trajano de Carvalho e João Cândido Brasil planejaram novos desenhos para os navios de guerra da Armada Nacional que possibilitaram aos Arsenais do país manterem competitividade com outras nações. Com o final do conflito contra o Paraguai, o governo brasileiro buscou reparar os danos sofridos pelas embarcações e reequipá-las, possibilitando ao Brasil ter a segunda mais poderosa marinha de guerra do mundo àquele momento.




Durante a década de 1870, o Império brasileiro teve por objetivo fortalecer ainda mais a sua Armada frente a uma possibilidade de um conflito armado com a Argentina. Assim, adquiriu uma canhoneira e uma corveta em 1873, um encouraçado e um monitor em 1874 e logo em seguida dois cruzadores e mais um monitor. O início da década de 1880 revelou que o crescimento da Armada continuaria, pois os Arsenais da Marinha do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Pará e Mato Grosso continuaram a construir dezenas de navios de guerra. Quatro torpedeiros foram comprados, foi criada a Escola Prática de Torpedos para praças e instalou-se uma oficina de fabricação e reparo de torpedos e aparelhos elétricos no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro em 30 de novembro de 1883. Este mesmo Arsenal construiu as canhoneiras a vapor: IniciadoraCariocaCamocimCabedelo e Marajó, além do patachi Aprendiz, todos com cascos de ferro e aço, e não mais de madeira (os primeiros do tipo construídos no país). Contudo, o ápice da Armada Imperial ocorreu com a incorporação dos encouraçados de alto mar Riachuelo e Aquidabã (ambos dotados de tubos lança-torpedos) em 1884 e 1885, respectivamente. A obtenção destes navios possibilitou o Brasil permanecer “entre as potências navais do universo”. Estes dois navios marcaram época, pois:

“Fizemos 'a Europa curvar-se ante o Brasil', porquanto o Riachuelo, ao ter a construção concluída na Inglaterra, em 1884, foi considerado pela opinião dos técnicos das nações marítimas mais adiantadas como um modelo em seu gênero, tais os aperfeiçoamentos que reunia.”



No último gabinete do regime monárquico o Ministro da Marinha, o Almirante José da Costa Azevedo, Barão do Ladário, deixou um amplo projeto que estava preste a ser realizado para a reorganização do pessoal e instituições da Armada. Em 1889, o Batalhão Naval detinha 454 praças e os Imperiais Marinheiros, 3.218 praças. O golpe de Estado que instaurou a República no Brasil não foi bem aceita pelos militares da Armada Imperial. Marinheiros foram rechaçados a tiros ao darem vivas ao Imperador quando este estava aprisionado no Paço Imperial. O Marquês de Tamandaré implorou ao seu amigo Dom Pedro II que o permitisse debelar o golpe, mas, este o negou tal possibilidade. O idoso almirante, com quase noventa anos de idade, seria preso mais tarde por ordem do ditador Floriano Peixoto sob a acusação de financiar militares monarquistas na Revolução Federalista.  O Barão de Ladário manteve-se em contato com a Família Imperial no exílio buscando maneiras de restaurar o regime deposto, mas acabou relegado ao ostracismo pelo governo republicano. O Almirante Saldanha da Gama liderou a Revolta Armada com o objetivo de ressuscitar o Império e uniu forças com outros militares monarquistas que estavam no Rio Grande do Sul. Todas as tentativas restauradoras foram esmagadas pelo governo republicano. Os oficiais monarquistas de alta patente foram presos, ou banidos ou fuzilados sem o devido processo legal, e seus subordinados sofreram "penas cruéis". 
Com o golpe militar que conduziu à Proclamação da República Brasileira (1889), acentuou-se o declínio da construção naval no país. Por quatro décadas, entre 1890 e 1930 não ocorreram lançamentos de novos meios flutuantes pelo Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro. O foco dos governos republicanos passou a ser equipar o Exército para o combate aos levantes internos, o que não foi alcançado de maneira satisfatória devido às dificuldades que o novo regime enfrentou em seus primeiros anos. Complementarmente, a Marinha era percebida como uma ameaça ao novo regime republicano, pois havia se constituído em uma das instituições mais fiéis ao Império e ao Imperador D. Pedro II.
A situação se tornara precária em pouco mais de uma década de regime republicano, visto que o Batalhão Naval fora reduzido a 295 soldados e os Imperiais Marinheiros a 1 .904 homens. Os equipamentos e navios adquiridos eram considerados defasados pelos oficiais da Marinha, que criticavam o completo abandono das oficinas de reparo. A participação em duas revoltas, conhecidas como Revoltas da Armada, sendo a segunda, declaradamente monarquista, custaram aos oficiais leais à Constituição brasileira de 1824 e ao Imperador não somente as suas carreiras, como também foram presos, banidos e fuzilados, sem sequer terem sofrido processo formado na Justiça Militar. Os marinheiros que obedeceram suas ordens e participaram da tentativa de restauração monárquica sofreram penas cruéis.
No início do século XX a força naval brasileira tornara-se obsoleta. Este expurgo completo nos quadros da Armada explica como foi possível uma instituição tradicionalmente leal a Monarquia ter se tornado subitamente republicana.

Um comentário:

  1. Consoante reportagem publicada pela conceituadíssima revista " National Geográfica" da década de 20 do século passado, o Brasil já teve nesse período histórico, a segunda maior armada do mundo, um pouco abaixo da armada britânica.

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